O Poder do Mito
O Poder do Mito
Márcia Cordoni

Márcia Cordoni

O Poder do Mito

Assisti recentemente à uma série de DVDs da coleção O poder do mito, que registra algumas entrevistas feitas com o estudioso Joseph Campbell. De todos os tópicos que mais me chamaram atenção, os trechos que falam sobre o local sagrado, a comunhão e a morte foram os que realmente me puseram a pensar. Fiz algumas anotações e o resultado daquela tarde filosófica você encontra aqui.

O local sagrado

Na jornada do herói, frequentemente aparece o conceito de uma área, edificação ou espaço tido como sagrado, como merecedor de profundo respeito, puro. Neste local, o herói se recarrega de forças ou adquire uma arma ou elemento que o ajudará em sua jornada. Trata-se sempre de um local distante de sua morada original, mas por onde o herói necessariamente deve passar, a fim de ser bem sucedido.
Campbell sugere que cada um de nós tenha um local especial assim. Um repouso onde você poderá escutar a música que ama, ler os livros que quiser e ficar momentaneamente separado das preocupações cotidianas.
Esse conceito me agradou demais, pois considero que o trabalho dos instrutores do Método DeRose oferece isso aos praticantes. Ao visitar uma das Escolas do Método, você irá realizar práticas, respirar, alongar; vai conhecer pessoas, conversar, sorrir, compartilhar; vai renovar suas energias para depois se engajar com o mundo se valendo de muito mais disposição e entusiasmo.

Comunhão

O sentimento de comunhão foi quase que exclusivamente adotado pelas religiões e fica difícil abordá-lo sem que o interlocutor faça associações espiritualistas. Entretanto, ele é quase ubíquo nas histórias e nos mitos da humanidade. Seja a busca pela comunhão, seja a sua realização em si.
O ser humano possui uma consciência individual geralmente egoísta. Sente-se separado das demais coisas e acaba tendo atitudes apenas em benefício próprio, tal como um pé que não sabe que faz parte de um corpo e decide caminhar numa direção contrária. Mas mesmo na pessoa mais mesquinha, existe um desejo latente de sentir-se unido, integrado aos demais seres e à natureza como um todo.
A alimentação é uma expressão desse desejo. Os alimentos que ingerimos vão fazer parte da constituição das nossas células e nós nos tornaremos aquilo que ingerimos. É por isso que muitas culturas observam restrições alimentares e, via de regra, fazem dela um momento especial, envolto em nas mais variadas etiquetas.
O contato sexual também é tido como uma manifestação do desejo de comunhão. Quando dois amantes se perdem no jogo de carícias, beijos e olhares, estão despidos de suas identidades para formar algo além deles mesmos. Por uma pequena janela do tempo, estão ambos juntos de uma forma impossível de se comparar. A celebração do casamento é um vestígio da cerimônia que na antiguidade autorizava os nubentes a usufruir deste contato.
De forma bem mais atenuada e socialmente muito mais prática que o contato sexual, a conversa e a linguagem são mecanismos de união entre as pessoas. Quando conversamos, compartilhamos nossas ideias através de uma linguagem comum. Um bate papo no qual nos sentimos compreendidos pode desencadear uma enorme satisfação.
Comunhão é estar em uniformidade, integrado, unido a algo além de nós mesmos. É dissipar por um instante a dualidade inerente a todas as coisas e juntá-las em algo novo e único.

Morte

Sinto muita dificuldade em conversar com quem quer que seja sobre a morte. Uns dizem que é algo macabro, sinistro. Outros ficam aflitos e sentem medo apenas de pensar que um dia irão morrer. Penso que a morte faz parte da vida como todas as demais coisas e gostaria de entendê-la um pouco melhor.
Existem muitas coisas que um sábio deve conhecer para que mereça esse título. Saber como morrer é uma dessas coisas. A mitologia e o imaginário humano são ricos em contos sobre os heróis que enfrentaram a morte, que agiram apesar dela. Tudo muda de perspectiva quando você sabe que vai morrer. Nós passamos o tempo todo pensando que vamos viver para sempre. Iludidos, pensamos que somos deuses eternos e, revestidos dessa falsa imortalidade, brigamos, discutimos, geramos intrigas e machucamos uns aos outros.
Se você tivesse a certeza de que vai morrer, trataria as pessoas com bondade. Cuidaria para que sua existência fosse recheada de momentos felizes. Considerar-se eterno é o pior erro que se pode cometer. A cólera e o ciúme são um privilégio dos deuses. A verdade é que a vida está sempre à beira da morte e morrer é o ato que completa a vida.
Quero viver por 120 anos ou mais. Somando uma alimentação criteriosa, exercícios inteligentes ao longo da vida, um emocional estável e amadurecido, mais a medicina do século XXI, acho que posso chegar lá com facilidade. Além disso, já sei como será minha passagem: quero morrer de rir.

Texto original: Vernon Maraschin

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